terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Quem banca os desfiles de carnaval?

O custo para a montagem de um desfile pode chegar a R$ 10 milhões, e o dinheiro vem de fontes como patrocínios e subsídios governamentais. Por Hugo Souza

No dia 27 de janeiro saiu a notícia de que o presidente da escola de samba Unidos de Vila Isabel, Wilson Vieira Alves, vulgo Moisés, estava disposto a pagar propina de R$ 100 mil para sair por algumas horas do presídio Ary Franco a fim de acompanhar o desfile da sua agremiação na Marquês de Sapucaí, no domingo de carnaval. Moisés foi preso em abril de 2010 em uma operação da Polícia Federal contra a máfia dos caça niqueis.
Os R$ 100 mil que o presidente da Vila Isabel pagaria por algumas horas de folia em liberdade, bem como o próprio fato de ele estar preso, denunciam o lado obscuro, ilícito da relação entre os desfiles das escolas de samba e o dinheiro que circula entre elas e suas fontes de financiamento.
Mesmo que as escolas de samba sejam organizações sem fins lucrativos e que os presidentes das agremiações, como o próprio Moisés, não sejam remunerados para exercer o cargo, há muito, muito dinheiro por trás da folia, mas isso não significa que esse dinheiro, ou pelo menos a maior parte dele, circule por debaixo dos panos. Ao contrário.

É a lógica: agronegócio patrocina desfile sobre o agronegócio

Em fevereiro do ano passado o jornal britânico Financial Times publicou uma reportagem especial sobre a profissionalização das escolas de samba brasileiras, ressaltando o fato de que elas estão “descobrindo a arte da administração”.
O custo para a montagem de um desfile na Marquês de Sapucaí pode chegar a R$ 10 milhões. O dinheiro é levantado com a venda de ingressos, fantasias, CDs e direitos de TV, com o pré-carnaval, subsídios governamentais e a obtenção de patrocínios. Neste ano a Vila Isabel do presidente preso Moisés, por exemplo, terá como patrocinadora a marca de shampoos e condicionadores Pantene. O enredo da escola para o carnaval 2011? “Mitos e Histórias Entrelaçadas Pelos Fios de Cabelo”.
Também no Rio a Mocidade Independente de Padre Miguel contará com R$ 2,6 milhões da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) para levar à Avenida um desfile sobre o agronegócio brasileiro. O enredo foi “sugerido” pela presidente da CNA, a senadora Katia Abreu (DEM-TO). Já o carnaval de rua da capital fluminense será bancado pelo banco Itaú e pela cervejaria Ambev. Em São Paulo, a tradicional escola de samba Vai-Vai pretende captar R$ 2,2 milhões para o desfile deste ano via Lei Rouanet.

No carnaval, cada quarto gera quatro empregos

É consenso: carnaval é bom para a economia, e o carnaval deste ano trará benefícios ainda maiores só pelo fato de o feriado cair no mês de março, com a entrada de mais dinheiro no país e a geração de mais empregos por conta do prolongamento das férias de início de ano.
Quem garante é o presidente da seção fluminense da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro (Abih-RJ), Alfredo Lopes de Souza Júnior. Em declarações à imprensa, ele disse que todas as vezes que o carnaval foi para março houve aumento do tempo de permanência dos turistas, principalmente os estrangeiros, em cidades como o Rio de Janeiro, onde eles costumam gastar em média US$ 250 por dia. No Rio, a ocupação para todo o mês de fevereiro está acima da média e restam apenas 20% das vagas para o período de carnaval.
A hotelaria da capital fluminense dispõe de cerca de 29 mil quartos (cerca de 40 mil em todo o estado). Segundo Alfredo Lopes de Souza Júnior, no período de carnaval cada quarto gera quatro empregos diretos ou indiretos. É a folia incrementando a economia.

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